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Reflexão
Anchieta e as Feras
Nesta obra de Benedito Calixto, a personagem principal é o padre jesuíta José de Anchieta.
A imagem parece simples e direta - funciona como uma obra de amiração da figura de Anchieta, enquanto nos informa sobre as principais ideias da época: a "necessidade" de evangelizar "as feras".
No meio da mata amazónica, a figura do padre, com a biblia numa mão e a cruz levantada na outra, torna-se central na cena. À esquerda, em baixo, uma onça-pintada encara-o com medo e fixação, algo visível pela forma como se curva perante o humano, olhando-o atentamente.
A relação entre as duas figuras apresenta claramente a ideia de submissão do "selvagem" perante a representação e ordem "divina", representada pelo padre. Aqui, a fé é novamente utilizada com um instrumento de controlo da mente, do corpo e da terra. A onça, reprentensa não só os animais selvagens que os colonizadores encontraram nestes territórios, mas o próprio colonizado, visto como "selvagem" pelo colonizador ocidental. A ligação entre "colonizado" e "selvagem" é proposital e procura desumanizar o segundo, a fim de justificar a colonização, evangelização forçada ou a escravatura.
Esta e outras imagens semelhantes tinham o objetivo de divulgar estas ideias e contruir um imaginário onde a colonização é justificada através da "missão civilizatória" - uma visualidade racista, hierárquica e binária a partir da higienizaçao colonial.