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Reflexão
Estátua Padre António Vieira
Inaugurada em 22 de junho de 2017, a estátua do Padre António Vieira, da autoria de Marco Telmo Areias Fidalgo, foi resultado de um concurso público destinado à sua elaboração.
A imagem foi feita com base numa gravura publicada em 1746 na biografia encomiástica do jesuíta. As três figuras indígenas, originalmente adultas, foram substituídas por três crianças indígenas, com o objetivo de engrandecer e destacar o padre como uma figura protetora e dominante.
A 5 de Outubro 2017, dia da Implantação da República, várias associações afrodescendentes e pessoas individuais manifestaram-se, colocando flores e velas aos pés da estátua, para recordar a opressão dos povos nativos, causadas pelo colonialismo e pela evangelização portuguesa.
A comoção popular e a discussão em torno da obra chamou a atenção de associações neofascistas, que também se juntaram no local, num ato de contra-manifestação, para celebrar e defender o passado colonial português e a sua importância na identidade nacional, colocando em evidência a importância destas figuras e monumentos na manutenção da narrativa colonial ainda presente na estrutura da sociedade portuguesa.
Na noite do 11 de junho de 2020, em solidariedade com o movimento BLM, o monumento foi grafitado de vermelho, no que as notícias do ato de protesto chamaram de "ação de vandalismo".
A figura do Padre António Vieira, assim como a de todos os padres jesuítas da época, é lembrada através de um processo de romantização histórica, enquanto "defensor dos direitos dos índios". Esta narrativa ignora que a "salvação" dos indígenas em relação à escravatura (que, para os jesuítas, não era contestável em relação às pessoas de origem africana) se realizava através de um processo violento de evangelização que incluía a perda forçada dos seus nomes originários, os seus costumes, vestes, língua e cultura.