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Reflexão
Uma família brasileira no Rio de Janeiro
Gravura publicada no livro "Viagens Pitorescas e a História do Brasil", da autoria de Jean-Baptiste Debret, que retrata, segundo o autor, "a família brasileira".
Debret não foi o único europeu que partiu rumo à América nestas viagens "pitorescas", para retratar e transmitir de volta à Europa o estado das colónias e das sociedades coloniais que se formavam à força nestes territórios, mas foi um dos artistas mais reconhecidos pelo trabalho que desenvolveu durante esse período.
Nesta imagem podemos ver uma família branca escravocrata e as pessoas negras que trabalhavam para ela, neste caso, no contexto doméstico. Podemos ver uma mulher, um homem e também crianças, também elas sujeitas à escravidão e ao trabalho forçado.
A ideia de "família" que é aqui suscitada terá repercurssões na narrativa construída em torno das relações da Casa Grande (casa dos escravocratas) e Senzala (local de aprisionamento e trabalho dos escravizados, dentro da propriedade da família) e será reforçada, mais de um século depois, por Gilberto Freyre e o seu conceito de "luso-tropicalismo". Esta e outras gravuras, deste e outros artistas europeus, ajudaram a construir o olhar e a visualidade europeia sobre a escravatura e a história da colonização, através da romantização e exotização da realidade.
Ainda hoje, é possível estabelecer uma relação entre a racialidade e o trabalho, consequência direta da colonização. Pessoas negras, e sobretudo mulheres negras, continuam a ocupar alguns dos trabalhos mais desvalorizados da sociedade, como o trabalho de limpeza, por exemplo. A ideia de "família", em relação ao trabalho, continua a ser uma ferramenta utilizada pelos patrões para justificar abusos e maus salários, colocando o patrão, ou neste caso, o escravocrata, num lugar de benevolência e caridade, ainda que cometendo as maiores atrocidades.
Como seriam estas imagens se tivessem sido feitas pelo olhar do escravizado?