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Crónica dos Feitos da Guiné (capa)

Reflexão

Crónica dos Feitos da Guiné (capa)

  • Proveniência Bibliothèque Nationale de Paris
  • Autoria Gomes Eanes de Zurara
  • Data 1453
  • Fonte Wikimedia Commons
  • Associação




A "Crónica dos Feitos da Guiné" foi escrita por Zurara a pedido de Afonso V, enviando-a ao soberano em carta datada de 1453, com o propósito de pôr "em scripto os feitos do Senhor Infante D Henrique".


Constitui-se de dois textos contíguos sobre os quais historiadores contemporâneos se debatem ainda hoje. Numa primeira o texto fala-nos do Infante, destacando-o como figura central do "descobrimento"/invasão dos territórios africanos, ocupando-se numa segunda parte da narrativa minuciosa das expedições realizadas a essas regiões.

É neste texto que são apresentadas as "cinco razões" que motivaram o Infante a promover as viagens na costa ocidental africana: a vontade de explorar os territórios além do Cabo Bojador; a procura de povoações cristãs, de portos seguros e de mercados onde os portugueses pudessem comerciar; o desejo de saber qual era a verdadeira extensão do “poderio dos mouros” na costa de África; saber se existiam, na costa africana, povos cristãos que estavam dispostos a lutar contra os mouros, descritos como os “inimigos da fé”; e, por fim, o “desejo” de promover a “salvação de todas as almas que se quisessem salvar” e, assim, trazê-las ao “verdadeiro caminho”.




Zurara descreve também a manhã do dia 8 de agosto de 1444, em Lagos, data do primeiro leilão conhecido de pessoas escravizadas em território nacional.

O texto descreve a chegada das pessoas escravizadas, bem como o momento de venda e escravização, numa descrição que passa pelo sofrimento e angústia dos escravizados, mas também daqueles que presenciaram o evento enquanto espectadores.


Esta crónica, para além de um dos documentos mais relevantes a nível do contexto histórico e social do momento inicial da colonização, levanta várias problemáticas.

Desde logo permite que questionemos a veracidade e intenção histórica por trás deste tipo de textos, uma vez que historiadores hoje têm dúvidas em relação à data de publicação e formato dos dois textos que podem ser o resultado de textos escritos em outros contextos. Para além disso, permite-nos refletir sobre como estes textos eram, no fundo, uma encomenda da coroa portuguesa e, por isso, possivelmente condicionados pelas vontades da mesma.


A Crónica dos Feitos da Guiné é também um documento de evidência do início e desenvolvimento de ideias racistas e anti-negras, utilizando a fé e a evangelização como justificação para a captura e escravização de pessoas dos territórios africanos que estavam a ser colonizados.