Reflexão

O Mito do Herói

Embarcação utilizada durante as navegações e invasões coloniais, que é, ainda hoje, exaltada como um dos maiores símbolos nacionais dentro da narrativa colonial contemporânea.

Existem centenas de reproduções da imagem da caravela presentes no espaço público e privado em Portugal, desde gravuras em fachadas de edifícios, ilustrações em manuais escolares até aos souvenirs para os turistas.

A sua mais importante representação é o padrão dos “descobrimentos”, um monumento construído durante a ditadura Salazarista para a Exposição do Mundo Português, realizada em 1940, e que serviu enquanto estratégia de propaganda para reafirmar a posição imperialista e colonial do Estado Novo (1933 - 1974).

A Caravela, o símbolo máximo do imperialismo português, representa uma peça-chave na identidade nacional, sustentada pelo mito do colonizador herói. Nas escolas, aprendemos que Portugal, apesar de um país pequeno, “conquistou” e “abriu as portas ao mundo”, que os navegadores portugueses foram corajosos e audazes em se aventurar por mares desconhecidos, numa missão altruísta de evangelização e civilizatória.

 

Na nossa história fazem-nos esquecer tudo o que isso custou.  

Este é o artefato que sustenta o ponto de partida da usurpação, genocídio, captura, tráfico e escravização de povos autóctones presentes em outras partes do mundo.

E a sua imagem é tão forte que seis séculos se passaram e o colonizador ainda é visto como herói.

Caravela lembrada, navio negreiro esquecido... ambas embarcações da morte, do expansionismo, do horror.