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Reflexão
Casa Grande & Senzala
Ilustração integrante do livro "Casa Grande e Senzala" do sociólogo brasileiro Gilberto Freyre, publicado em 1933.
A Casa Grande e a Senzala, aqui representados na figura, referiam-se ao terreno e habitação dos chamados "senhores de engenho", ou seja, os escravocratas que possuíam nos seus terrenos um engenho de açúcar e a senzala, local onde os escravizados eram mantidos e aprisionados.
A Casa Grande &Senzala, mais do que um espaço físico, configura um microcosmos específico, através do qual é possível entender dinamicas sociais, políticas, económicas e raciais da época. Freyre utiliza o conceito de Casa Grande para enfatizar a sua importância na formação da sociedade brasileira, argumentando a seu favor e a favor da miscegenação - forçada - entre brancos (escravocratas) e negros (escravizados).
Na figura é possível compreender a dimensão e complexidade deste espaço, onde habitavam o senhor de engenho e sua família branca, mas também negros escravizados que trabalhavam na roça, no engenho de açúcar e, alguns, na Casa Grande.
Apesar de Gilberto Freyre falar desta estrutura como algo positivo, a sua argumentação não deixa de incorporar ideias racistas e coloniais, como pode ser compreendido pela representação caricatural das pessoas negras na imagem, por exemplo. O seu livro ganhou uma importância notória sobre o tópico, sobretudo porque gerou o conceito de "luso-tropicalismo", que argumenta que os colonizadores portugueses são excecionalmente abertos à miscegenação e "mistura" cultural, justificando assim toda a estrutura social hierárquica e esclavista da época.
Este conceito foi inicialmente rejeitado em Portugal, uma vez que este contacto entre escravista/escravizado só acontecia nos territórios colonizados e não em Portugal e, por isso, as relações sociais entre os dois grupos não foram iguais ao que aconteceu no Brasil. Só mais tarde, durante a ditadura de Salazar, é que o conceito foi estrategicamente aproveitado para relativizar a violência da guerra colonial que acontecia nos territórios africanos. Ideias como a "fraternidade entre raças" foi muito utilizada para esconder a verdade sobre a guerra e sobretudo esconder as motivações racistas por detrás das violências coloniais.
A ideia de que "portugal não é um país racista", utilizada mais recentemente por grupos de extrema-direita em Portugal, está diretamente ligada à recusa do racismo e violência no processo colonial que o luso-tropicalismo proporcionou.