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Theatrum Orbis Terrarum

Reflexão

Theatrum Orbis Terrarum



A obra Theatrum Orbis Terrarum (1570), de Abraham Ortelius, é considerada o primeiro atlas moderno do mundo. Semioticamente, mapas não são apenas representações neutras do espaço, mas símbolos de poder e controle.


O Theatrum Orbis Terrarum transforma o mundo numa imagem visível, ordenada e classificada a partir do olhar europeu, correspondente ao gesto colonial de “ver para possuir”. A obra organiza o mundo segundo uma epistemologia eurocêntrica: o conhecimento válido é o que é produzido, reunido e interpretado pela Europa. As regiões fora da Europa aparecem exotizadas ou em branco, à espera de serem “descobertas”, “civilizadas” e “completadas” pelo saber europeu.



A ilustração que vemos aqui, é a folha de rosto da publicação do Theatrum Orbis Terrarum, e é altamente alegórica em relação a todas estas ideias. A composição hierarquiza visualmente os continentes: Europa está no topo, literalmente e simbolicamente, transmitindo a ideia de que a Europa é a fonte do saber, do poder e da ordem global — o olhar de onde o mundo é mapeado e interpretado; a Ásia (lado esquerdo) e África (lado direito) surgem com traços de exotismo, riqueza e mistério — desejáveis, mas subordinadas. A América (figura em baixo) é mostrada como “selvagem”, sem roupas e degolando um homem branco — o que justifica, na visão colonial, a “missão civilizadora” europeia.


O arco clássico onde toda esta narrativa se assenta, funciona como moldura ideológica, representando autoridade, ciência e civilização greco-romana — herança que a Europa reivindica como sua. Simboliza também a ideia de entrada para o saber universal através da Europa que é reforçada: o atlas é um “palco” do conhecimento eurocêntrico.



Este é um artefacto semiótico da colonialidade: cria um mundo à imagem da Europa, legitima a conquista, organiza o espaço com base em hierarquias de valor, e silencia outras formas de conhecimento e existência. É, portanto, um mapa do mundo colonizado, mas também da mente colonial.